Nery Porto Fabres
A expansão do Ocidente atinge o Rio Grande
Nery Porto Fabres
Professor
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As porteiras marítimas do Rio Grande tornaram-se a forma mais discreta de se entrar pela mata sulista e montar uma estrutura para seguir viagem pela Laguna, chamada posteriormente de Lagoa dos Patos. Por ela se poderia alcançar o Canal São Gonçalo que, através de suas águas, acessava a Lagoa Mirim.
Esse caminho se funde à bacia do Prata. Lá os braços alongam-se aos territórios, hoje conhecidos como Uruguai, Argentina e Paraguai. O local era perfeito, porque Rio Grande se fazia ficar escondido entre essas lagoas imensas e as embarcações se perdiam da visão das gáveas de quaisquer outras naus que transitavam pelo Atlântico. Porém, por trás das matas densas, habitavam nativos vindo da Patagônia, no extremo sul das Américas.
Conhecidos por Tribo dos Patos, por usarem bicos de patos selvagens sobre as cabeças, esse adorno tinha a utilidade de emitir sons como forma de comunicação entre seus indivíduos. Eram guerreiros habilidosos e difíceis de se combater, o que mais impressionava os europeus eram suas técnicas de combate que baseava-se em amedrontar os inimigos antes de atacá-los.
Neste habitat em que não havia grandes civilizações, o tempo não obedecia os ponteiros do relógio. Vez e outra surgiam ruídos estranhos e movimentos de árvores nervosas. Ouvia-se o estalar dos galhos secos. Gemidos ecoavam do fundo da selva. Sons diversos se misturavam desnudando um mundo aterrador.
Pelas frestas das florestas densas, seres nus espiavam quaisquer aproximações vindas do oceano. Produziam gestos macabros, com rostos pintados e adornos horrendos feitos de ossos humanos. Peles pintadas com sangue definiam um costume indígena que carregava a devoção por divindades oriundas da imaginação de quem desconhecia as crenças de quem habitava o outro lado do Oceano Atlântico.
Cada grande embarcação avistada fazia-os evocar proteção divina. Guerreiros e pajés se utilizavam do próprio sangue em rituais de proteção. O vento soprava forte. Nuvens escuras formavam-se em colunas. Torciam o Céu.
A Lua cheia, por entre elas, emitia uma luz alaranjada e vermelha. Como se o Céu fosse queimar em chamas. O mar levantava ondas furiosas. As águas escureciam. Por cima brotavam espumas brancas. Aumentavam as ondas e seus tamanhos. Disputavam espaço com as areias da praia. Estouravam nas matas costeiras. Enraivecidas destruíram parte da floresta em suas margens praianas.
Os deuses estavam zangados com o homem branco, diziam os indígenas por sintagmas monossílabos da linguagem Guarani. As três embarcações que se arriscavam a se aproximar da costa do Rio Grande estavam sendo jogadas para todas as direções. A tempestade de ventos abriu as portas do Céu. As águas inquietas do mar receberam ajuda de águas celestes que, invejosamente, castigaram as naus, rebentavam as velas das quilhas, dos mastros centrais, dividiram-nas em partes. A chuva era torrencial, os ventos formavam cachoeiras que despencavam por várias direções.
Ali os homens europeus, os quais sobreviviam ao massacre da natureza americana, compreendiam a fúria da natureza e a crença nos deuses e demônios que viviam nas tradições dos nativos, ou eles se dobravam a essa cultura, ou eram mortos e queimados em sacrifício aos deuses. (Continua)
Trecho da obra A história do Rio Grande sob um olhar descontraído, deste autor.
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